quinta-feira, 31 de março de 2011

Mas que partido é esse? - Luiz Manfredini*

“Um céu tão sujo não clareia sem uma tempestade”
Willian Shakespeare

O desafio da Conferência Extraordinária do PCdoB do Paraná está em realizar, coletivamente e com a contundência e a profundidade necessárias, a crítica do caminho percorrido nos últimos anos, estabelecendo as bases de um novo projeto político para o partido no Estado, contraposto ao que vigorou até agora e que a vida tratou de reprovar.

A visão dialética é assim: se uma solução por acaso mostra-se equivocada, ou apenas esgotou sua validade, muda-se a solução, construindo uma que melhor se ajuste às novas feições da realidade. E assim por diante.

Para enfrentar o desafio proposto pela conferência extraordinária é necessário partir da realidade objetiva – não da imaginada ou desejada - e de certas referências teóricas e políticas essenciais que orientam o pensamento partidário, e que foram sensivelmente mitigadas nos últimos tempos.

Realidade sem fantasias

A realidade no Partido no Paraná foi suficientemente traçada pelo documento-base da conferência, particularmente sem seu pitem 11.3, para o qual chamo a atenção do leitor.

O texto mostra um partido gravemente abalado ideológica, política e organizativamente. Não há como tapar o sol com a peneira: o partido está na UTI. Não foi por menos que nosso Presidente Renato Rabelo falou em “reconstrução” do Partido no Estado. Só se reconstrói aquilo que foi destruído. E trata-se de uma reconstrução no mais amplo sentido: ideológica, política e organizativa.

Talvez ainda haja quem não pense assim, quem pense que as coisas, afinal, não estão tão ruins, sendo necessário um retoque aqui e ali para seguirmos adiante. Pura ilusão. Freud dizia que “ilusão é um desejo que se toma por saber”, algo, portanto, que passa muito distante da visão materialista, motivada – a ilusão – por ignorância, ingenuidade ou sabe-se lá por quais outros motivos.

É da realidade estrita, objetiva que devemos partir quando pensamos na reconstrução do nosso Partido no Paraná. Levantarmo-nos quase que do fundo do poço. Mas qual partido mesmo desejamos reerguer das cinzas? Em outras palavras: estamos tratando de que tipo de partido? A lassidão ideológica, o “cretinismo parlamentar” (para usar a expressão que Lênin empregava para definir o desvio político da atuação quase exclusiva no campo institucional), a anemia organizativa, entre outros fatores predominantes no PCdoB do Paraná nos últimos anos, fomentaram concepções liberais de partido, estranhas à visão marxista-leninista. Houve casos de dirigentes declararem, publicamente, a falência dos fundamentos teóricos formulados por K. Marx e F. Engels, e defenderem abertamente a natureza essencialmente eleitoral do nosso partido. Outros remeteram o objetivo socialista para um futuro tão remoto que se tornaria desnecessário – até inconveniente – mencioná-lo no presente.

Assim, a concepção de partido é o eixo estruturante de todo o raciocínio reconstrutor do PCdoB do Paraná. É o ponto do qual devemos partir. E esse ponto de partida esta nos fundamentos teórico-ideológicos e políticos da ação revolucionária.

Os fundamentos que nos guiam

Não estamos pensando em qualquer partido. O PCdoB é, como reafirmam seus estatutos, “o partido político da classe operária e do conjunto dos trabalhadores brasileiros, fiel representante dos interesses do povo trabalhador e da nação. Organização política de vanguarda consciente do proletariado, guia-se pela teoria científica e revolucionária elaborada por Marx e Engels, desenvolvida por Lênin e outros revolucionários marxistas”. Seu objetivo maior é “a conquista do poder político pelo proletariado e seus aliados, propugnando o socialismo científico”.

O PCdoB é, portanto, um partido da “ação transformadora contemporânea do século XXI, inspirado pelos valores da igualdade de direitos, liberdade e solidariedade, de uma moral e ética proletária, humanista e democrática”. Um partido da transformação, não da conservação social. Um partido, portanto, revolucionário, uma vez que seu objetivo estratégico só será atingido por meio de uma ruptura revolucionária. – sob formas ora imprevisíveis. Um partido dotado de estratégia – a conquista do socialismo – para a qual convergem todas as táticas adotadas nos diferentes períodos históricos.

Essa conformação teórica e programática é que exige, para que a ação e a construção partidárias sejam consequentes na atual correlação de forças em nosso País, a realização simultânea e sinérgica do tripé formado pelos planos institucional, movimento social e da luta de idéias. Na circunstância contemporânea situa-se o campo institucional (onde despontam os processos eleitorais), como o núcleo do tripé.

Esses três elementos da ação partidária são balizados pela relação tática/estratégia. Ou seja: atua-se em cada um deles de acordo com tática atual que, por sua vez, está voltada para nos aproximar da nossa estratégia, a vitória do socialismo em nosso País.

É preciso desenvolver e fortalecer no PCdoB do Paraná, extensivamente, profundamente esta visão da tática voltada para a estratégia. Não fazê-lo, como vem ocorrendo, implica descambar para o pragmatismo e para a perda de rumo.

Somente um partido, como é o PCdoB em suas definições teórico-ideológicas e políticas, um partido marxista-leninista, revolucionário, voltado para a transformação social, dará conta da tarefa histórica que significa derrotar o capitalismo no Brasil e substituí-lo pelo socialismo, etapa civilizatória superior.

A construção de um projeto político restaurador do PCdoB do Paraná implica a luta constante, sem tréguas e de todos, a começar pelos quadros dirigentes, contra os males essenciais que, nos últimos anos, nos conduziram ao fundo do poço: o espontaneísmo, o voluntarismo, a predominância dos interesses pessoais, setoriais ou localistas, o eleitoralismo, a estruturação partidária meramente eleitoreira (portanto débil, fracionada e inoperante, favorecendo desse modo as decisões centralizadas, solitárias), a incompetência de gestão, os procedimentos burocrático-administrativos que sufocaram o debate interno.

É preciso considerar também a necessidade vital de um renascimento ético do partido no Estado. Nos últimos anos, a crise ideológica se aprofundou e tornou as fileiras partidárias vulneráveis a um espírito burguês, com seus laivos de dissimulação, oportunismo intelectual, individualismo, espertezas e artimanhas.

Todo esse conjunto de desafios ideológicos, políticos e organizativos ganham concretude – ou seja, deixam o campo da constatação e das intenções – mediante um projeto político sistemático, articulado, consistente, capaz de aplicar, no território em que atuamos, a linha geral do partido. Num próximo texto abordarei, mais particularmente, alguns pressupostos que julgo importantes – essenciais mesmo – para a construção desse projeto político para o nosso partido no Estado.

*Luiz Manfredini é filiado ao PCdoB de Curitiba. Jornalista e escritor, é membro do Comitê Estadual e de sua Comissão Política, representante no Paraná da Fundação Maurício Grabois, colunista do sítio Vermelho e membro do Conselho Editorial da revista Princípios.

quarta-feira, 30 de março de 2011

Edital de convocação da Conferência Estadual Extraordinária do PCdoB-PR

O Comitê Estadual do PCdoB – Paraná, reunido dia 29 de janeiro de 2011 deliberou que no uso de suas atribuições, convoca extraordinariamente sua Conferência Estadual, conforme previsto pelo artigo 26 do Estatuto, para o dia 30 de abril de 2011, das 9:00 as 19:00 horas, no Hotel Paraná Suíte, sito a Rua Lourenço Pinto, 456, Centro, Curitiba - PR, os delegados titulares e suplentes, eleitos nos vintes encontros macrorregionais da Conferência Estadual Extraordinária, para a plenária final que deliberará sobre a seguinte ordem do dia:

1. Discussão e deliberação do documento sobre a situação do partido e novo projeto político partidário;

2. Eleição do novo Comitê Estadual.

O presente edital é baseado na normatização da Conferência Estadual Extraordinária e, aprovadas pelo Comitê Estadual em consonância com as normas do Comitê Central, e em comprimento a legislação em vigor.

Madson Oliveira
Secretário de Organização

Milton Alves
Presidente

Curitiba, 29 março de 2011

segunda-feira, 28 de março de 2011

Repensar o PCdoB é preciso - Madson de Oliveira*

Saúdo em primeiro lugar, a todos (as) os (as) filiados (as) e militantes do PCdoB. Hoje completamos 89 anos de luta intensa pela democracia, soberania, justiça social e, principalmente pelo socialismo.

Saúdo também nesse momento reconhecermos coletivamente o esgotamento do modelo de construção partidária atual e, por conseqüência a necessidade de repensarmos o PCdoB do Paraná como um todo. Repensar as nossas frentes - Unegro, CTB, UJS, UBM -, repensar o nosso projeto eleitoral - eleições municipais até as eleições gerais - e repensar a nossa atual direção partidária. Saúdo também a disposição de todo o partido para enfrentarmos de frente, através de um debate aberto, essa grave e antiga situação pela qual estamos passando.

Penso que nesse momento a palavra de ordem seja Repensar. Vamos repensar quando perdemos a nossa autocrítica, a disposição de convencer e ser convencido, o debate a exaustão para construirmos coletivamente os encaminhamentos necessários.

Por isso, achar alguns “culpados” não resolve absolutamente nada e não nos levará a lugar nenhum.

Se nesse momento a palavra de ordem será Repensar, não menos importante devemos valorizar o termo Comprometimento. Comprometimento coletivo para a construção partidária, para que as deliberações sobre organização, projeto eleitoral, finanças...não caíam no esquecimento fácil, quando na verdade precisamos implementar as nossas decisões.

Projeto Organizativo, Financeiro...

As direções municipais, especialmente das grandes cidades e cidades polos precisam ser entendidas como nosso centro gravitacional. A efetivação da construção partidária ocorre nos municípios, por isso os nossos esforços devem ser nessa perspectiva.

1) Realizar acompanhamento de perto das grandes cidades e cidades pólos, através de membros do secretariado e coordenadores regionais das Macros, participando periodicamente das reuniões e demais atividades dos municipais;

2) Encontros anuais setoriais são fundamentais. Para o ano de 2011 realizarmos o 1º Encontro Estadual de Organização, o 1º Encontro Estadual de Comunicação e o 1º Encontro Estadual de Finanças, todos ainda no primeiro semestre, se possível;

3) Realizar debates bimestrais com os coordenadores das Macro-Regionais, mesmo que seja a distância, pois esse esforço é fundamental para materializarmos nossas ações e, fortalecer de forma geral as direções municipais do estado (concordo com a proposta do camarada Elton Barz, de possuirmos macros baseado na divisão política do Paraná);

4) Realizar o mapeamento de 100 filiados de maior potencialidade, para prepararmos futuros dirigentes partidários, dentro da proposta de política de quadros;

5) Planejarmos como ação de partido, a transição de jovens filiados da juventude para novas funções na estrutura partidária. Pois ainda é através da juventude nossa maior potencialidade de filiação partidária;

6) Para fortalecermos as nossas finanças, debate antigo e de difícil resolução, se faz necessário além das contribuições individuais e de cargos, implementarmos de acordo com nossa aprovação no Pleno de Abril de 2010 e, com todo o rigor estatutário, a contribuição por municipal. Somente com essa medida daríamos um salto nas finanças. (mas para isso exige comprometimento de todos);

7) Repensarmos as nossas frentes, além de debates específicos sobre Mulheres, juventude, Sindical e etc... o acompanhamento pelo partido é primordial. Hoje temos um exército de filiados via CTB e nunca discutimos com a Central como organizá-los. Precisamos discutir pra valer como o partido auxilia no fortalecimento da CTB. A CTB também pode e deve ser instrumento de estruturação do partido, mas não em uma relação de aperto financeiro do partido e, a entidade ajuda. Precisa ser estruturado e razoável para ambos os lados.

A UJS no estado precisa ser repensada com novas perspectivas. Viramos basicamente organização de disputa das eleições do M.E. e dos congressos da UPE e Upes. Precisamos de um projeto político e de estruturação financeira. Para superarmos o estágio da disputa pelas entidades.
As nossas frentes são instrumentos privilegiados de luta política, por isso devemos cuidar com muito zelo e comprometimento.

Projeto Eleitoral

Desde 1994 caminhamos com o mesmo projeto eleitoral, focado na disputa de deputado Federal. Mas desde 1998 esse projeto não logra êxito. Cada vez mais as eleições de deputado tornam-se regionalizadas e, com um estado com as diversidades culturais, econômicas e sociais que possuímos requer um novo modelo eleitoral.

1) Precisamos estabelecer como projeto prioritário para as eleições de 2014 a eleição de pelo menos um deputado estadual, através de chapa própria. Com isso teremos maior facilidade de atrair novas e sadias lideranças, facilitando o enraizamento partidário nas diversas regiões e cidades polos. (Com 50 candidatos precisaremos fazer um pelo outro a média de 3.400 votos para eleger um deputado);

2) Para atingirmos esse objetivo em 2014, devemos passar por 2012 sob um novo prisma também. Discutir seriamente, o mais rápido possível, em conjunto (municipal e estadual) se há possibilidades de candidaturas majoritárias em Curitiba, Foz do Iguaçu, Pato Branco, Arapoti, Piraí do Sul e Francisco Alves;

3) Deliberar por chapa de candidatos à vereador em todas as grandes cidades ou cidades polos como: Curitiba, Londrina, Maringá, Foz do Iguaçu, Pato Branco, Guarapuava, Cascavel, Ponta Grossa, Cianorte, Colombo, São José dos Pinhais, Araucária, Francisco Alves, Piraí do Sul e Francisco Beltrão. Salvo uma particularidade muito forte ou quando já possuirmos mandato, pois pode haver outras possibilidades de manter o mandato;

4) Atenção redobrada e esforço concentrado para Curitiba;

5) Criarmos no secretariado o cargo de secretário de questões institucionais. Para podermos planejar projetos eleitorais com maior profissionalismo e capacidade de acompanhamento. Ex: planilhas de custo de campanha, planejamento de campanha majoritária e proporcional, estatísticas, relatório de realidade local e etc... (Se faz necessário um camarada com certa experiência na área);

Considerações finais

Uma nova direção deve ser composta na base das novas perspectivas que apontaremos. Mais representativa das visões distintas no interior do partido, com maior disponibilidade de atuação e, principalmente com feição de renovação.

Para obtermos êxito nesse desafio de Repensar o partido, se faz necessário encontrarmos saídas a partir de muito debate coletivo, disposição de encontrarmos entendimentos (por mais difíceis que possam parecer). Esses entendimentos também valem para a nossa relação junto ao Comitê Central.

A presença e mediação do C.C. é ponto crucial a construção dessa disposição. Não podemos pensar que somos uma organização desassociada e nem simplesmente receber fórmulas prontas. A superação para acontecer, se faz preciso mais do que nunca de comprometimento, centralidade política e debate para haver os entendimentos necessários. Qualquer imposição de um lado ou outro, estaremos fadados há um novo impasse, antes mesmo de superarmos o atual.

* Madson de Oliveira, é filiado ao PCdoB de Curitiba. Jornalista, é Secretário Estadual de Organização do PCdoB.

segunda-feira, 21 de março de 2011

Breve análise da situação do Partido – Matsuko Mori Barbosa*

No início da década de 1980, quando filiei-me ao PCdoB, o Partido ainda era clandestino e pequeno. Porém os seus militantes tinham uma atuação destacada. Atuávamos no movimento estudantil, movimento de bairros, movimentos de mulheres, nos sindicatos e nos movimentos populares em geral. Estávamos organizados em organismos de base, com funcionamento regular, onde realizávamos a análise de conjuntura, estudo dos clássicos do marxismo, leitura dos editoriais do jornal Tribuna Operária, que também tínhamos cota para vender e vendíamos nas portas das fábricas da CIC de madrugada. Os candidatos nas eleições eram os quadros do Partido e não políticos que surgiam de última hora, não se sabe de onde. E não se pode dizer que o resultado das urnas era vergonhoso. Isso porque os militantes se empenhavam, se engajavam na campanha eleitoral. E o candidato defendia as propostas do PCdoB. Podemos dizer que naquela época, 30 anos atrás, a situação era bem diferente da atual. Um pouco antes da minha filiação, a bandeira de luta era “ANISTIA GERAL E IRRESTRITA” Depois veio : “Abaixo a ditadura militar”; “Eleições diretas já”. Com a derrota das diretas, apoiamos Tancredo Neves no Colégio Eleitoral, depois lutamos pela Assembléia Constituinte Livre e Soberana. Com o fim da ditadura e a redemocratização do nosso país, conquistamos a legalidade para o PCdoB. Que descortinou novos horizontes. Nos anos seguintes, lutamos pela eleição de Lula para presidente. Hoje, após várias conquistas democráticas, os progressos econômicos e sociais no nosso país, com a candidata que apoiamos no poder, vivemos uma crise interna no PCdoB. O Partido não cresce e não elege seus candidatos. Qual é a ordem do dia hoje para o nosso país? Qual o papel do PCdoB na conjuntura nacional? O que extraímos de essencial do “Programa Socialista para o Brasil”, para nortear as ações dos quadros e militantes?

A realização da Conferência Extraordinária do Partido no Paraná não deve ser encarado como mais uma instância formal e burocrática para mudar a direção, que só interessa àqueles que ocupam cargos de direção. Deveria interessar a todos, e principalmente àquelas meia dúzia de pessoas abnegadas, que carregam o piano nas costas, dedicam parte considerável da sua vida pessoal, profissional e econômica ao partido, muitas vezes sem voz ou tempo para realizar questionamentos, ou para se aprofundar nos estudos sobre os documentos do Partido. Muitas vezes penso, estão num barco onde se matam de tanto remar, mas nunca questionam para onde o barco está sendo levado? Se não está havendo mudança de rumo? Ou devemos seguir cegamente, sem análise crítica? Com fé cega?

O que fazer para tirar o Partido deste marasmo e desta apatia? Como dar uma injeção de ânimo ao conjunto de filiados, militantes, amigos, simpatizantes para começar uma nova fase no Partido no Paraná?

Já se dizia que sem teoria revolucionária não há revolução.

Qual a teoria revolucionária do momento atual?

Qual a revolução que iremos dirigir?

Todos já lemos os documentos do Comitê Central que traz estas questões? Tiramos as conclusões? Estamos convencidos?

O Partido deve ter unidade política e de ação.

Devemos estar afinados com a tática e a estratégia definidos no Congresso do Partido e também com a Organização do Partido.

A nova direção a ser eleita deve levar a sério estas questões e de fato, de forma firme e decidida, reconstruir o Partido no Paraná, para que não vire de novo uma geléia geral.

Os militantes do Partido não devem ser convocados para discussões apenas em épocas de eleições, em forma de plenárias para se engajarem nas campanhas. Ou para discussão de documentos base em épocas de conferências e pré-congressos. Devemos participar de vida orgânica no Partido, de forma regular, onde se discute a política do Partido, traçam-se as tarefas, onde a direção orienta e acompanha a execução destas tarefas.

Como vamos recrutar novos militantes se nós mesmos não estamos convencidos?

Daí trazemos um cantor famoso, um jogador de futebol para ser o nosso candidato para termos representatividade política no cenário nacional. Isso para mim é construir um gigante com pés de barro.

Usando uma linguagem mais popular, falta tesão para atuar no Partido.

A situação do Partido no Paraná, não está isolada da do resto do país. Não chegaremos a lugar nenhum num processo autofágico. Precisamos refletir com tranqüilidade e coragem, debruçando-nos sobre os documentos do Partido, desde os clássicos até os atuais e tirar as conclusões, de forma corajosa.

Coragem para responder a algumas questões que não querem calar: Chegaremos ao socialismo sem necessidade de pegar em armas? O que é a teoria do desenvolvimentismo?

Acho até que o prazo deveria ser maior para a conclusão desse processo todo de discussão. Para que realmente tenha valido a pena e façamos diferente daqui para frente.

* Matsuko Mori Barbosa é filiada ao PCdoB de Curitiba. Enfermeira, atua na UBM. Membro do Comitê Municipal de Curitiba.

Notas sobre as bases do Novo Projeto Político do PCdoB/PR - Elton Barz*

O projeto político do Partido é como ele se apresenta ao povo paranaense e propõe sua mobilização e organização.

Sem um projeto político claro, sistemático, concreto, o Partido fica sem o que dizer à sociedade na qual atua, a não ser generalidades do projeto nacional e questões pontuais. Assim, dilui sua participação no cenário político do Estado, confunde-se com outras forças, quando não vai a reboque delas.

O projeto político do PCdoB/PR é a aplicação, na realidade concreta do Estado, da tática nacional do Partido definida para o período.

Partindo-se desse pressuposto, o projeto tem como centro a luta institucional e, no seu contexto, as disputas eleitorais.

Para um Partido revolucionário como o PCdoB, com o forte compromisso estratégico de derrotar o capitalismo em nosso País e substituí-lo pelo socialismo, o núcleo da tática só faz sentido se articulado com a atuação partidária no movimento social e na luta de idéias.

Este é o tripé da ação do Partido. Dependendo do período histórico que se vive, uma assume a principalidade. Mas, em qualquer período, uma não se realiza em plenitude se desarticulada das demais.

Isto significa que, no período atual, a luta eleitoral – central na tática – só se vincula à estratégia socialista (norte fundamental da existência e da ação comunista) e, portanto, só tem sentido, se umbilicalmente ligada à ação do partido no movimento social e na luta de idéias.

O desafio do Partido no Paraná, nesse processo de reconstrução, está em aplicar essa equação nas circunstâncias econômicas, sociais, políticas e culturais do Estado.

Em primeiro lugar, precisamos decidir o alcance temporal do projeto. Poderemos trabalhar numa perspectiva de dez anos, período em que teremos duas eleições municipais e duas para a Presidência, governos estaduais e renovação do Congresso e assembléias legislativas.

Em segundo lugar, precisamos definir onde, no território do Estado, o Partido atuará. Nos maiores municípios. Devemos usar o mesmo critério do CC, elencando cidades com mais de 100 mil habitantes.

Ali o projeto deverá detalhar como o Partido atuará no processo eleitoral, a começar pelo exame imediato das demandas políticas para o pleito municipal de 2012 e pelo planejamento de sua atuação imediata no movimento social e da luta de idéias.

É a articulação dialética dessas três frentes que nos fortalecerá para disputar as eleições de 2012.

Nesse processo o Partido deve produzir uma análise concreta do cenário político local, dela extraindo um conjunto de propostas a serem levadas aos aliados, evitando ficar a reboque destes. Essas propostas permearão o movimento social e o plano da luta de idéias.

O Partido privilegiará sua militância, seus filiados e amigos na indicação de candidatos. O movimento social e o campo da luta de idéias deverá ser fonte primordial para essas indicações.

Isso não exclui que o Partido ofereça legenda a outros, mas desde que estejam no campo progressista e possuam conduta e histórico que não venha manchar a respeitabilidade do Partido.

O nosso projeto deve apontar as medidas necessárias para garantir, nas cidades, a implantação/fortalecimento do Partido, sua maior integração no movimento social e na luta de idéias e um projeto mais especificamente eleitoral, sobretudo com a indicação de nomes com maior potencialidade de votos e de personalidades com densidade política que poderão ingressas em nossas fileiras. Tudo isso, é claro, dentro de uma perspectiva que aponte para uma participação produtiva do Partido o processo político-eleitoral, vista a situação por um ângulo estratégico.

- Nosso horizonte é construir diuturnamente uma chapa própria para deputado estadual nas eleições de 2014. Uma chapa que expresse nossa participação nas câmaras municipais, nos executivos municipais, mas também nossa presença no movimento social e em todas nossas frentes de massas. Desde 1994 caminhamos com o mesmo projeto eleitoral, focado na disputa de deputado Federal. Mas desde 1998 esse projeto não logra êxito. Cada vez mais as eleições de deputado tornam-se regionalizadas e, com um estado com as diversidades culturais, econômicas e sociais que possuímos requer um novo modelo eleitoral.

1) Precisamos estabelecer como projeto prioritário para as eleições de 2014 a eleição de pelo menos um deputado estadual, através de chapa própria. Com isso teremos maior facilidade de atrair novas e sadias lideranças, facilitando o enraizamento partidário nas diversas regiões e cidades pólos. (Com 50 candidatos precisaremos fazer um pelo outro a média de 3.400 votos para eleger um deputado);

2) Para atingirmos esse objetivo em 2014, devemos passar por 2012 sob um novo prisma também. Discutir seriamente, o mais rápido possível, em conjunto (municipal e estadual) se há possibilidades de candidaturas majoritárias em Curitiba, Foz do Iguaçu, Pato Branco, Arapoti, Piraí do Sul e Francisco Alves;

3) Deliberar por chapa de candidatos à vereador em todas as grandes cidades ou cidades pólos como: Curitiba, Londrina, Foz do Iguaçu, Pato Branco, Guarapuava, Cascavel, Ponta Grossa, Cianorte, Colombo, São José dos Pinhais, Araucária, Francisco Alves, Piraí do Sul e Francisco Beltrão. Salvo uma particularidade muito forte ou quando já possuirmos mandato, pois pode haver outras possibilidades de manter o mandato;

Temos que acompanhar os atuais mandatos de vereador, aproximá-los do Partido, estabelecer um processo de acompanhamento e convencimento permanente sobre os princípios de um mandato comunista, além de avaliar as perspectivas de crescimento em todos estes municípios.
Acompanhar com especial atenção o caso de Wenceslau Brás.

Avaliar todos os municípios que o Partido lançou candidatos a vereador em 2008 e não elegeu, preparando e incentivando os candidatos a se apresentarem novamente em 2012 com o objetivo, além da conquista do mandato, de ampliar a influência eleitoral para 2014.

Cuidar e acompanhar os municipais criados a partir de 2008, em sua maioria com energia nova e projetos ambiciosos para 2012, como Foz do Jordão, Dois Vizinhos, Mangueirinha, Itaipulândia e outros.

4) Atenção redobrada e esforço concentrado para Curitiba;

5) Criarmos no secretariado o cargo de secretário de questões institucionais. Para podermos planejar projetos eleitorais com maior profissionalismo e capacidade de acompanhamento. Ex: planilhas de custo de campanha, planejamento de campanha majoritária e proporcional, estatísticas, relatório de realidade local;

O Partido precisa cuidar mais e melhor dos seus quadros criando o Departamento de quadros para um partido maior e com mais protagonismo social. Temos que incentivar, desenvolver, fortalecer e alicerçar todo o nosso crescimento partidário numa substanciosa política de quadros.

- Para fortalecer nosso projeto precisamos promover grandes atos de filiações levando o partido a ter mais capilaridade no tecido social do nosso Estado.

Precisamos cuidar mais e melhor do nosso partido promovendo uma competente gestão, que de conta deste partido de tipo novo que queremos alavancar. Não podemos nos render ao voluntarismo e ao espontaneismo. Planos de gestão baseado em planejamento estratégico, acompanhamento permanente, metas, prazos e métodos de avaliação tem que ser adotados.

Viabilizar o funcionamento das Macro Regionais como um grande intermediário entre as direções municipais e o diretório estadual . As macros terão que se estruturar para ajudar a implementar nosso projeto político. Para tal sugerimos que o território das Macros acompanhe os das Associações de Municípios.

As direções municipais, especialmente das grandes cidades e cidades pólos precisam ser entendidas como nosso centro gravitacional. A efetivação da construção partidária ocorre nos municípios, por isso os nossos esforços devem ser nessa perspectiva.

1) Realizar acompanhamento de perto das grandes cidades e cidades pólos, através de membros do secretariado e coordenadores regionais das Macros, participando periodicamente das reuniões e demais atividades dos municipais;

2) Encontros anuais setoriais são fundamentais. Para o ano de 2011 realizarmos o 1º Encontro Estadual de Organização, o 1º Encontro Estadual de Comunicação e o 1º Encontro Estadual de Finanças, Encontro Estadual de Formação todos ainda no primeiro semestre, se possível;

3) Realizar debates bimestrais com os coordenadores das Macro-Regionais, mesmo que seja a distância, pois esse esforço é fundamental para materializarmos nossas ações e, fortalecer de forma geral as direções municipais do estado ;

4) Realizar o mapeamento de 100 filiados de maior potencialidade, para prepararmos futuros dirigentes partidários, dentro da proposta de política de quadros;

5) Planejarmos como ação de partido, a transição de jovens filiados da juventude para novas funções na estrutura partidária. Pois ainda é através da juventude nossa maior potencialidade de filiação partidária;

6) Para fortalecermos as nossas finanças, debate antigo e de difícil resolução, se faz necessário além das contribuições individuais e de cargos, implementarmos de acordo com nossa aprovação no Pleno de Abril de 2010 e, com todo o rigor estatutário, a contribuição por municipal. Somente com essa medida daríamos um salto nas finanças;

7) Firmar o compromisso de efetivar no Paraná a Escola de formação do partido.

* Elton Barz é filiado ao PCdoB de Ponta Grossa. Professor universitário, coordenador da macrorregião Centro Sul, membro Diretório Municipal de Ponta Grossa, do Comitê Estadual e da Comissão Política Estadual.

quinta-feira, 17 de março de 2011

Vídeo sobre o documento-base da Conferência do PCdoB



http://twitcam.com/476dn para interaçao via twitter

segunda-feira, 14 de março de 2011

Partido e Juventude (acerca dos itens 16 e 21 do Documento-Base) - Michael Genofre*

A crise que fez o PCdoB do Paraná caminhar por tantos caminhos equivocados formaram gerações de militantes, no mínimo, sacrificadas e sem grandes perspectivas sobre seu futuro. A ausência de uma direção em questões importantes fez dela irresponsável para com um grande número de jovens que, por muitas vezes, sacrificaram saúde, família, vida profissional, vida acadêmica e tantas outras coisas em nome de um projeto que, cada vez mais, revelava-se inexistente. Sua entidade de juventude, criada para ser ampla, porém sem deixar de ser a entidade de juventude do PCdoB, foi, no Paraná, violentamente desamparada. E não há ou houve um militante de juventude sequer que não conheça a dor, a fome, o preconceito, o julgamento depreciativo e o desrespeito vindos não de seu inimigo social, mas de sua própria direção.

Sem comprometimento para com a luta revolucionária não há como compreender a importância da atuação de uma juventude socialista. Os militantes da UJS serão vistos enquanto “comunistas de calças curtas” enquanto um projeto claro de construção de lideranças não for levado a sério pelo partido no Paraná. Isto quando não são vistos enquanto problema, pois aumentam rapidamente a demanda por decisões políticas em suas direções partidárias e seu retorno é impossível de mensurar no curto prazo.

O trabalho de juventude deve ser sempre considerado importante. Ao mesmo tempo, todos os membros do Partido precisam compreender com nitidez e profundidade o significado estratégico que a UJS possui para o movimento revolucionário e para a própria organização partidária. A União da Juventude Socialista não é igual a outras organizações partidárias de juventude. Ela é mais do que uma forma de sobrevivência de jovens partidários, que ainda não se desenvolveram politicamente ou tampouco acumularam forças o bastante para enfrentar os ardores da batalha política. A UJS é fruto de um processo histórico de construção e acúmulo de forças protagonizado pelo Partido do Socialismo entre a juventude brasileira. Ela elabora, questiona, organiza-se com linguagem própria e forma uma militância de altíssima qualidade. Boa parte, se não uma grande maioria, dos principais quadros do PCdoB tiveram sua formação política ainda em tenra idade, pois vieram das fileiras da União da Juventude Socialista.

A autonomia organizativa da UJS não implica em desamparo político e estrutural do PCdoB à sua juventude. Ainda que se tenha melhorado em inúmeros aspectos - em dias atuais não se tem cizânias entre a juventude, há um Secretário de Juventude de qualidade e há um segundo militante na Presidência da UJS, e outros elementos que demonstram essa melhoria – aumentaram-se dificuldades orgânicas (houve uma redução drástica no número de militantes e filiados, imensa dificuldade em se construir núcleos, indisposição da militância em valorizar o trabalho cotidiano de conscientização e atuação de base, e assim por diante).

O aumento de tamanhas dificuldades é fruto da ausência da organização partidária em meio à juventude. Ainda que autônoma, a UJS é uma organização do PCdoB, e justamente por isso deve ser fonte de preocupação diuturna de todos os seus dirigentes e militantes. Os comunistas devem reforçar a direção política e ideológica do Partido entre seus filiados com atuação na juventude, ao mesmo tempo em que deverá respeitar a autonomia orgânica e apoiar a liberdade de iniciativa da UJS.

Um dos problemas recorrentes da atuação de juventude é que, como qualquer atividade política, ela necessita de recursos financeiros. E, uma vez que seus membros, em sua quase totalidade, são militantes do movimento estudantil, eles não possuem sequer salário que garanta seu sustento diário, quanto menos de meios próprios para sua atuação política. O PCdoB paranaense deve tratar em sua política de finanças, de maneira permanente, as finanças da UJS enquanto uma atividade política. O Partido deve construir formas para que a UJS tenha suas próprias fontes de recursos. E até que a UJS consiga se sustentar, o Partido deve assumir a responsabilidade de financiar a existência de sua juventude ou buscar fontes para essa existência.

No que diz respeito à organização de juventude, o Partido não deve fazer experimentos, mas inovações. Aumentar o apoio aos secretários municipais de juventude – devendo ser uma tarefa exclusiva para o militante que a assume. As secretarias de juventude devem ser construídas, sempre que possível, em todos os organismos do Partido, sejam eles direções municipais, comitês distritais, Comitês de Macrorregiões ou Organismos de Base. Serão responsáveis, em sua área de atuação, de orientar a política, dando respaldo ideológico, às atividades da UJS – sempre respeitando sua autonomia organizativa e liberdade de iniciativa; planejar e acompanhar a atuação dos jovens comunistas (filiados ao Partido) nas lutas da juventude em que sua militância se envolva; gestar o conhecimento historicamente acumulado a fim de proporcionar à juventude uma atuação mais sólida e evitando cometer erros ou equívocos previsíveis; interagir com as demais secretarias e tarefas executivas do Partido e inserir nos comitês de atuação governamental e parlamentar propostas de Políticas Públicas de Juventude elaboradas pela União da Juventude Socialista.

Compreender a atualidade dos movimentos sociais de juventude, principalmente o estudantil, de maneira a aumentar a presença dos comunistas qualitativamente e quantitativamente. Dar apoio na construção dos núcleos da UJS, bem como voltar a formar e acompanhar as bases partidárias onde haja a presença da juventude de maneira especial. São tarefas mínimas para todo aquele que assumir a tarefa de Secretário de Juventude. Esse militante deverá ser membro da Comissão Política de seu nível de organização partidária, ter capacidade política e de elaboração para a juventude – além de paciência e trato com a juventude. Não ser militante da UJS, ter preferencialmente mais de 30 anos (idade limite para atuação na UJS).

A formação dos jovens comunistas, que deve ser uma prioridade para o PCdoB, deve possuir um plano anual composto de prazos, metas e textos de elaboração ou base sobre acontecimentos paranaenses. Além de apoiar o programa de formação próprio que a UJS possui, deve o Partido inserir em seu processo de formação a juventude, sempre respeitando os mais variados graus de compreensão partidária que cada militante possui.

Por fim, o PCdoB paranaense deve se acostumar com a condição especial que o militante de juventude possui. O jovem comunista, que deve ter sua atuação política realizada através da UJS, deve participar de uma Base do PCdoB – ainda que não se recomende nenhuma tarefa executiva de partido para ele ou ela. Simultaneamente, deve o Partido também definir sua política de quadros para sua juventude, especialmente para seus jovens comunistas dirigentes da UJS e àqueles que já encerraram sua contribuição nesta entidade pelo avançar da idade – criando perspectivas enquanto experiente quadro intermediário do partido.

* Michael Genofre é filiado ao PCdoB de Curitiba. Analista internacional especializado em internacionalização de cidades; ex-secretário estadual de organização da UJS-PR, integrante da executiva da UPE (2001-2005).

sexta-feira, 11 de março de 2011

Recomeçar, desta vez do jeito certo - Michael Genofre*

A fim de se obter êxito aos pontos 4 e 5 do documento-base, retornando para uma espécie de “bê-á-bá” do marxismo-leninismo, é possível identificar alguns dos terríveis equívocos do partido neste Estado – que o desconfigura de sua principal diferenciação para os demais partidos: o de ser um partido de orientação e organização marxista-lenista com um projeto nacional claro e de objetivo socialista. O primeiro passo para um recomeço, desta vez do jeito certo, é recuperar tais elementos.

Primeiramente, sem a menor disposição de ser outra coisa, trata-se da construção de um partido de vanguarda. Não negar jamais a teoria marxista enquanto base de fundação de todas as organizações internas e o próprio partido. Considerar que, independentemente das urgências da atuação partidária, “Sem teoria revolucionária não há movimento revolucionário” capaz de superar a sociedade capitalista.

O PCdoB paranaense, em nome de uma urgência ou mesmo da impaciência intelectual – aqui, ignorando-se propositalmente eventuais outros motivos tão ou ainda menos aceitáveis -, passou a negar sistematicamente a análise marxista da realidade. Partiu para um avesso caminho que tantos outros partidos caminharam e erraram ao longo da história. Passou a ignorar seu papel de orientador de novas formações econômico-social, socialista, formador de indivíduos conscientes e convictos, organizador de bases estruturadas e motivadas.

Um primeiro passo firme é trazer para a realidade estadual, inclusive em cada segmento do próprio partido, a importância do papel da consciência, suas limitações e seus avanços. Sem ela, a existência de um partido do proletariado no Paraná será negligenciada sistematicamente em nome das mais diversas, e torpes, argumentações. Convencidos disto, torna-se, então, possível enfrentar a dificuldade de se ter uma teoria revolucionária em crise no Estado resultante de seu insuficiente desenvolvimento ao longo de sua história local. Enfrentar conscientemente que não se tem, ainda, elaboração constante e minimamente suficiente para uma crítica da sociedade capitalista em suas manifestações e contradições em terras paranaenses. Saber fazer as perguntas certas e buscar respostas com adequado método, eis o caminho para superar a crise programática e orgânica que o PCdoB possui no Paraná.

Simultaneamente, voltar a construir o que Lênin chama de “um partido de novo tipo”, elaborador e implementador da teoria revolucionária na realidade paranaense. O PCdoB paranaense perdeu seu desejo de buscar essa construção e partiu para a estruturação de mais um partido de esquerda – inclusive, numa questionável concepção do que seja essa esquerda. Perdeu a sua capacidade de análise que deveria buscar observar todos os aspectos da vida social, todos aspectos da vida política, e voltar-se para falar com todo o povo, todas as classes da população, e apresentar à sociedade a importância histórica de se emancipar o trabalhador. Tornou-se corporativa para alguns, funcionalista para tantos. Tornou-se ferramenta para projetos alheios à busca por autonomia da classe operária, além de ter perdido completamente a capacidade de ser intérprete, quiçá protagonista, da classe operária perante o conjunto social.

Sem uma direção comprometida com a construção deste partido de novo tipo, alguns de seus mais importantes militantes se perderam também na via do sectarismo, fatalista e irracional. Buscou-se valorizar o militante “de ferro”, inexistente, baseado em concepções morais, beirando ser quase como uma religião, para se definir um militante e para reconhecer seus dirigentes. Criou-se uma cultura de intolerância ao erro individual, de obediência acrítica como critério de avaliação do comprometimento do militante, e um sistemático desarme ideológico ao se eliminar o debate e a avaliação das ações partidária devido ao medo de críticas ou revelações de eventuais tropeços na condução partidária.

Outros, ainda mais irracionalmente, mantém-se na velha discussão – e que já deveria ter sido superada há tempos – de concepção de ser ou não um partido fechado, composto tão somente de quadros, de atuação análoga aos tempos de clandestinidade, “de poucos, mas bons”, de “puros”. Voltando as costas para uma realidade que exige um partido grande, capaz de se infiltrar em todos os elementos da vida social a fim de cumprir seu imprescindível papel de vanguarda operária.

Isso quando não se curvava para outros motivos, ao gosto do oportunista.

Não há como ser um partido comunista sem ser de uma classe determinada: o proletariado. Não dá para ser um partido de novo tipo sem buscar a ser a representação política e social dessa classe e encarnando seus valores e aspirações. Urge entender o proletariado paranaense. Urge produzir política a partir da análise de suas necessidades e realidades. Entender que ele não desenvolverá consciência de classe sozinho – aliás, tende a ficar preso na alienação que provoca o trabalho. Estudar esse proletariado, abordando a realidade da sua vida e da sua história de luta, buscando infundir nele identidade e consciência de classe – enfim, exercer o papel de Partido Comunista.

Todos estes elementos devem estar contidos em um sistema organizativo e normativo. Para este sistema: o centralismo democrático enquanto princípio fundamental organizativo. Que, até sobre este aspecto, o PCdoB-PR errou por estranhas práticas.

Mais que um método, é o centralismo democrático um ajustamento da política aos conteúdos ideológicos. É a prática da capacidade de analisar as exigências de cada situação, o nível de consciência, as possibilidades reais, e a construção de iniciativas e tomada de ação com passos firmes, criadoras de consensos ou maiorias, à base de políticas justas e cotidianamente debatida pelo coletivo partidário.

O PCdoB do Paraná abriu mão do correto centralismo democrático. Quando não desmotivava o debate - e assim favorecendo a apatia ou a obediência acrítica -, temia-se ele enquanto causador de cisões. Perdeu-se, devido a este equívoco, a construção de objetivos unitários – que, quando isto acontece, no mínimo, quadros deixam de somar em torno de uma mesma linha política para se tornar rivais em nome de seus projetos particulares.

Não se deve temer o crescimento partidário se nele há o centralismo democrático, pois ele dá conta de conciliar o debate necessário com a ação política unitária. Não se deve temer o debate, pois somente há a possibilidade da minoria acatar a decisão da maioria nele. Uma maioria deve ser construída em todos os temas, a fim de que uma ação unitária seja construída. Caso contrário, tem-se apenas o centralismo – nada democrático, de culto à personalidade, parasitário, e que fatalmente leva a organização de grupos ou de deformações na atuação política (quando não acaba afastando militantes e quadros em potencial). Não se deve tratar qualquer movimentação em torno de polarizações de opinião como uma ameaça à estrutura partidária ou prática de grupo. Pois, se há centralismo democrático, há os movimentos dialéticos capazes de polarizar e até mesmo organizar fluxos de opinião – extremamente saudável em um partido comunista. Enfim, ser instrumento de construção da unidade de ação de todo o partido, jamais um instrumento da imposição unilateral de vontades de uma direção sobre todo o coletivo partidário como tem sido.

* Michael Genofre é filiado ao PCdoB de Curitiba. Analista internacional especializado em internacionalização de cidades; ex-secretário estadual de organização da UJS-PR, integrante da executiva da UPE (2001-2005).

Obs: A Comissão Editorial manteve os destaques (sublinhados) do original.

Autocrítica - Marcelo Ricieri Pinhatari*

Faço uma pergunta com todo o respeito, aos dirigentes e camaradas: a autocrítica foi abolida do partido?

Quem souber, por favor, me responda, pois acho que estou "por fora do debate".

Melhor. É possível que esteja por fora de qualquer "esquema".

Bom... Se foi extinta, seja por ser antiquada ao novo momento partidário... Tudo bem. Não tem problema, pois faz tanto tempo que não a vejo que já esqueci mesmo do que se trata.

Porém, se está apenas em desuso, como uma lei antiquada, gostaria que me respondessem que lei nova é esta que a aboliu.

É a lei das conveniências?

Se estou sendo abusado, por favor, me desculpem... Faço aqui uma autocrítica, camaradas...

Percebo, acho que intuitivamente, que a autocrítica seja uma forma singela de demonstrar humildade. Ou ainda, uma vez que o partido nasceu dentro da classe operária, tinham aqueles camaradas, num determinado momento da historia deste partido, a noção de que as posições pessoais estavam sempre passivas a erros, enganos, ilusões.

Parece-me, intuitivamente, é claro, que o espírito neocapitalista, fantasiado deste complexo de super-homem, tenha dominado muitos dos camaradas e companheiros dos movimentos de esquerda. Talvez pelo contato tão íntimo com as estruturas fascinantes do poder do Estado.

Faço autocrítica, se estiver errado, ou se for muito abusado...

Não tem problema.

É possível que a autocrítica tenha se tornado um procedimento um tanto quanto infantil, diante de homens tão fortes e tão poderosos. Ou ainda, diante das disputas acirradas por espaços políticos, o ódio endureceu o coração dos camaradas. A proximidade com as estruturas do Estado transpôs o jogo político para as estruturas internas do partido.

Se não for isso, também faço autocrítica.

Porém, como o processo é de debate. Vale a pena arriscar.

Quem sabe, pelo erro, eu acerto.

Saudações.

* Marcelo Ricieri Pinhatari é filiado ao PCdoB de Londrina. Advogado, milita na área da cultura popular. Secretário de comunicação do Partido em Londrina.

quarta-feira, 9 de março de 2011

Enfim, ao debate! - Luiz Manfredini*

A derrota do nosso partido nas eleições do ano passado no Paraná resultou, no fundamental, de uma vasta crise partidária que se arrasta por vários anos, agravando-se cada vez mais.

O documento-base da conferência extraordinária, na parte dedicada ao “balanço eleitoral e partidário”, trata com muita propriedade dessa questão, particularmente no trecho que reproduzo a seguir e que, a meu ver, expressa a essência da crise que vivemos.

“A rigor, a crise do PCdoB do Paraná está, fundamentalmente, na ausência de um projeto político articulado, sistemático, que fomentou o espontaneísmo e o voluntarismo, alimentando a prevalência de interesses pessoais, setoriais e ou localistas. A ação institucional, para onde convergiram tais interesses, tornou-se praticamente exclusiva, com grave subestimação dos outros dois fatores do tripé da ação partidária: a atuação no movimento social e na luta de idéias”.

“Sem inserção significativa no movimento social e com participação quase nula na luta de idéias, o Partido perdeu substância inclusive em sua participação eleitoral. A organização partidária, por seu lado, moldou-se, de um modo geral, às demandas eleitorais, desorganizando-se em seguida em sua maior parte. Agravou a situação a incompetência na gestão partidária, com predominância do espontaneísmo e do voluntarismo”.

“Tal situação provocou dispersão da militância. O Partido tornou-se uma espécie de confederação de comitês municipais, perdendo assim a unidade política e organizativa. Processos e procedimentos burocrático-administrativos acabaram por obstruir os canais democráticos de funcionamento interno, sufocando o debate de idéias que, sem poder ser freado, transferiu-se para outras esferas, deformando-se muitas vezes”.

Penso que o relativo sufocamento do debate de ideias a que o documento-base se refere possibilitou que a crise partidária prosperasse - ao menos na escala em que prosperou. Em outras palavras: se as opiniões divergentes sobre os caminhos a tomar pudessem ter sido expostas e examinadas adequadamente, tanto no âmbito da direção, como das bases, certamente o partido não teria marchado, como marchou, sob o peso de uma enorme (e progressiva) crise interna, rumo a uma derrota anunciada.

A verdade é que vivemos um longo período de, digamos, vertigem da dialética entre nós, já que houve um truncamento da luta de idéias nas fileiras partidárias. Refiro-me, aqui, à luta de idéias organizada, fluindo pelos canais da organização partidária e segundo as normas de funcionamento do partido, dirigida a fortalecê-lo cada vez mais.

A luta de idéias, onde quer que ocorra, expressa a luta de contrários (uma categoria dialética) no campo do pensamento. E a luta dos contrários é o motor do desenvolvimento da matéria e da consciência em quaisquer circunstâncias. Assim, o relativo abafamento da luta de idéias na vida partidária, fenômeno que grassou nos últimos anos, obstruiu o desenvolvimento de um pensamento coletivo crítico e ajustado às demandas de um partido revolucionário como o nosso. Com isso a crise corroeu o organismo partidário e chegamos à derrota de outubro de 2010.

O que se pretende com o processo da conferência extraordinária de 30 de abril – seja nas reuniões e assembléias preparatórias, seja nas páginas dessa Tribuna de Debates eletrônica - é justamente libertar o fluxo de idéias, nas direções e nas bases, dar asas ao pensamento crítico marxista-leninista e, coletivamente, coesos em torno do programa, das concepções teórico-ideológicas do partido e da análise concreta do cenário político em que atuamos, realizar a crítica do caminho percorrido nos últimos anos e formular as bases para um projeto consistente, articulado de ação política e organização partidária no Paraná.

Estou convencido de que a militância do PCdoB do Paraná quer emitir suas opiniões, quer ajudar a repensar o partido, retirá-lo da crise em que se encontra, injetar-lhe forças e vê-lo prosperar na cena política do Estado como verdadeiro partido revolucionário, marxista-leninista, que atua no presente, segundo as circunstâncias do presente, com os olhos postos no futuro, nos seus objetivos estratégicos, na perspectiva da construção no socialismo em nosso País.

Espero que essa militância valorosa encontre  nas páginas dessa tribuna e no palco das reuniões preparatórias da conferência, as oportunidades de participação que talvez não tenha encontrado até então. E certamente fará, dessa prática dialética da reflexão e do debate, um hábito rotineiro na vida que o partido terá daqui para frente.

*Luiz Manfredini é filiado ao PCdoB de Curitiba. Jornalista e escritor, autor de As moças de Minas, membro do Comitê Estadual e de sua Comissão Política, representante no Paraná da Fundação Maurício Grabois, colunista do sítio Vermelho e membro do Conselho Editorial da revista Princípios.

segunda-feira, 7 de março de 2011

Abertura da Tribuna de Debates da Conferência Estadual Extraordinária do PCdoB Paraná

Camaradas filiados/as ao PCdoB no Paraná,

Conforme deliberações do Comitê Estadual do PCdoB Paraná, estamos iniciando o processo de debates da Conferência Estadual Extraordinária do Partido. Como parte do processo de debate, será publicada a Tribuna de Debates Eletrônica, que é um espaço para manifestação das opiniões dos filiados ao Partido no estado.

O filiado que enviar texto para publicação deve identificar o município em que vive e exerce militância, assim como a base ou frente de massa em que milita.

Reproduzimos abaixo, o texto da Norma da Conferência Estadual Extraordinária que regula a Tribuna de Debates:

"Da publicação da Tribuna de Debates da Conferência Extraordinária

Art. 14 – O Comitê Estadual editará a Tribuna de Debates (TD) da Conferência Extraordinária a partir de 07 de março de 2011 na forma de encarte no blog do Partido no Estado (pcdobpr.wordpress.com), bem como indicará uma Comissão Editorial responsável pelo recebimento dos textos, verificação do cumprimento das normas contidas nesta resolução e publicação dos mesmos.

Parágrafo I – A TD se destina à divulgação de textos de filiados ou militantes, cada qual com até 6.400 toques, contendo opiniões individuais sobre a Ordem do Dia da Conferência.

Parágrafo II – A edição da TD ocorrerá até 18 de abril de 2011.

Art. 15 – Os textos deverão ser encaminhados à Comissão Editorial, cujo endereço eletrônico será amplamente divulgado, tanto na resolução que convoca a Conferência, como nos espaços de comunicação do Partido no Estado.

Parágrafo Único – Após o recebimento de cada artigo, a Comissão Editorial disporá de até três (três) dias para comprovar se o autor é filiado do PCdoB.

Art. 16 – É livre o direito de expressão dos filiados e militantes, não podendo a Comissão Editorial, ou qualquer outra instância partidária, interferir no conteúdo dos textos. Mas devem ser respeitados a ética partidária e os temas constantes da pauta da Conferência. Não serão publicadas matérias que contenham ataques pessoais a militantes e filiados ou ao Partido.

Parágrafo I – A Comissão Editorial da TD, considerando alguma matéria em desacordo com esta regulamentação, enviará o artigo de volta a seu autor com as observações pertinentes.

Parágrafo II – Cabe ao autor recurso à Comissão Política do Comitê Estadual, em caso de não acatar as observações da Comissão Editorial."
A Comissão Editorial da Tribuna de Debates foi definida na reunião do Comitê Estadual em 26 de fevereiro e é composta por Paulo Adolfo Nitsche (Dodô), Luiz Alberto Manfredini, Mario Antonio Ferrari e Ivan Carlos de Souza (Ivanovick).

Esta comissão criou uma caixa de e-mails exclusiva para a qual devem ser mandados os textos elaborados pelos filiados do Partido que é: tdpcdobpr@gmail.com . Os textos enviados para esse endereço e-mail, após verificação dos critérios da Normatização da Conferência, serão publicados no blog: tribunapcdob2011.blogspot.com , endereço da Tribuna de Debates Eletrônica do Partido.

A Comissão Editorial da Tribuna de Debates aproveita para reiterar a importância do amplo debate para que sejam alcançados os objetivos da Conferência Extraordinária.

Saudações e bom debate,

A Comissão Editorial da Tribuna de Debates da Conferência Estadual Extraordinária do PCdoB PR.