A crise que fez o PCdoB do Paraná caminhar por tantos caminhos equivocados formaram gerações de militantes, no mínimo, sacrificadas e sem grandes perspectivas sobre seu futuro. A ausência de uma direção em questões importantes fez dela irresponsável para com um grande número de jovens que, por muitas vezes, sacrificaram saúde, família, vida profissional, vida acadêmica e tantas outras coisas em nome de um projeto que, cada vez mais, revelava-se inexistente. Sua entidade de juventude, criada para ser ampla, porém sem deixar de ser a entidade de juventude do PCdoB, foi, no Paraná, violentamente desamparada. E não há ou houve um militante de juventude sequer que não conheça a dor, a fome, o preconceito, o julgamento depreciativo e o desrespeito vindos não de seu inimigo social, mas de sua própria direção.
Sem comprometimento para com a luta revolucionária não há como compreender a importância da atuação de uma juventude socialista. Os militantes da UJS serão vistos enquanto “comunistas de calças curtas” enquanto um projeto claro de construção de lideranças não for levado a sério pelo partido no Paraná. Isto quando não são vistos enquanto problema, pois aumentam rapidamente a demanda por decisões políticas em suas direções partidárias e seu retorno é impossível de mensurar no curto prazo.
O trabalho de juventude deve ser sempre considerado importante. Ao mesmo tempo, todos os membros do Partido precisam compreender com nitidez e profundidade o significado estratégico que a UJS possui para o movimento revolucionário e para a própria organização partidária. A União da Juventude Socialista não é igual a outras organizações partidárias de juventude. Ela é mais do que uma forma de sobrevivência de jovens partidários, que ainda não se desenvolveram politicamente ou tampouco acumularam forças o bastante para enfrentar os ardores da batalha política. A UJS é fruto de um processo histórico de construção e acúmulo de forças protagonizado pelo Partido do Socialismo entre a juventude brasileira. Ela elabora, questiona, organiza-se com linguagem própria e forma uma militância de altíssima qualidade. Boa parte, se não uma grande maioria, dos principais quadros do PCdoB tiveram sua formação política ainda em tenra idade, pois vieram das fileiras da União da Juventude Socialista.
A autonomia organizativa da UJS não implica em desamparo político e estrutural do PCdoB à sua juventude. Ainda que se tenha melhorado em inúmeros aspectos - em dias atuais não se tem cizânias entre a juventude, há um Secretário de Juventude de qualidade e há um segundo militante na Presidência da UJS, e outros elementos que demonstram essa melhoria – aumentaram-se dificuldades orgânicas (houve uma redução drástica no número de militantes e filiados, imensa dificuldade em se construir núcleos, indisposição da militância em valorizar o trabalho cotidiano de conscientização e atuação de base, e assim por diante).
O aumento de tamanhas dificuldades é fruto da ausência da organização partidária em meio à juventude. Ainda que autônoma, a UJS é uma organização do PCdoB, e justamente por isso deve ser fonte de preocupação diuturna de todos os seus dirigentes e militantes. Os comunistas devem reforçar a direção política e ideológica do Partido entre seus filiados com atuação na juventude, ao mesmo tempo em que deverá respeitar a autonomia orgânica e apoiar a liberdade de iniciativa da UJS.
Um dos problemas recorrentes da atuação de juventude é que, como qualquer atividade política, ela necessita de recursos financeiros. E, uma vez que seus membros, em sua quase totalidade, são militantes do movimento estudantil, eles não possuem sequer salário que garanta seu sustento diário, quanto menos de meios próprios para sua atuação política. O PCdoB paranaense deve tratar em sua política de finanças, de maneira permanente, as finanças da UJS enquanto uma atividade política. O Partido deve construir formas para que a UJS tenha suas próprias fontes de recursos. E até que a UJS consiga se sustentar, o Partido deve assumir a responsabilidade de financiar a existência de sua juventude ou buscar fontes para essa existência.
No que diz respeito à organização de juventude, o Partido não deve fazer experimentos, mas inovações. Aumentar o apoio aos secretários municipais de juventude – devendo ser uma tarefa exclusiva para o militante que a assume. As secretarias de juventude devem ser construídas, sempre que possível, em todos os organismos do Partido, sejam eles direções municipais, comitês distritais, Comitês de Macrorregiões ou Organismos de Base. Serão responsáveis, em sua área de atuação, de orientar a política, dando respaldo ideológico, às atividades da UJS – sempre respeitando sua autonomia organizativa e liberdade de iniciativa; planejar e acompanhar a atuação dos jovens comunistas (filiados ao Partido) nas lutas da juventude em que sua militância se envolva; gestar o conhecimento historicamente acumulado a fim de proporcionar à juventude uma atuação mais sólida e evitando cometer erros ou equívocos previsíveis; interagir com as demais secretarias e tarefas executivas do Partido e inserir nos comitês de atuação governamental e parlamentar propostas de Políticas Públicas de Juventude elaboradas pela União da Juventude Socialista.
Compreender a atualidade dos movimentos sociais de juventude, principalmente o estudantil, de maneira a aumentar a presença dos comunistas qualitativamente e quantitativamente. Dar apoio na construção dos núcleos da UJS, bem como voltar a formar e acompanhar as bases partidárias onde haja a presença da juventude de maneira especial. São tarefas mínimas para todo aquele que assumir a tarefa de Secretário de Juventude. Esse militante deverá ser membro da Comissão Política de seu nível de organização partidária, ter capacidade política e de elaboração para a juventude – além de paciência e trato com a juventude. Não ser militante da UJS, ter preferencialmente mais de 30 anos (idade limite para atuação na UJS).
A formação dos jovens comunistas, que deve ser uma prioridade para o PCdoB, deve possuir um plano anual composto de prazos, metas e textos de elaboração ou base sobre acontecimentos paranaenses. Além de apoiar o programa de formação próprio que a UJS possui, deve o Partido inserir em seu processo de formação a juventude, sempre respeitando os mais variados graus de compreensão partidária que cada militante possui.
Por fim, o PCdoB paranaense deve se acostumar com a condição especial que o militante de juventude possui. O jovem comunista, que deve ter sua atuação política realizada através da UJS, deve participar de uma Base do PCdoB – ainda que não se recomende nenhuma tarefa executiva de partido para ele ou ela. Simultaneamente, deve o Partido também definir sua política de quadros para sua juventude, especialmente para seus jovens comunistas dirigentes da UJS e àqueles que já encerraram sua contribuição nesta entidade pelo avançar da idade – criando perspectivas enquanto experiente quadro intermediário do partido.
* Michael Genofre é filiado ao PCdoB de Curitiba. Analista internacional especializado em internacionalização de cidades; ex-secretário estadual de organização da UJS-PR, integrante da executiva da UPE (2001-2005).