A derrota do nosso partido nas eleições do ano passado no Paraná resultou, no fundamental, de uma vasta crise partidária que se arrasta por vários anos, agravando-se cada vez mais.
O documento-base da conferência extraordinária, na parte dedicada ao “balanço eleitoral e partidário”, trata com muita propriedade dessa questão, particularmente no trecho que reproduzo a seguir e que, a meu ver, expressa a essência da crise que vivemos.
“A rigor, a crise do PCdoB do Paraná está, fundamentalmente, na ausência de um projeto político articulado, sistemático, que fomentou o espontaneísmo e o voluntarismo, alimentando a prevalência de interesses pessoais, setoriais e ou localistas. A ação institucional, para onde convergiram tais interesses, tornou-se praticamente exclusiva, com grave subestimação dos outros dois fatores do tripé da ação partidária: a atuação no movimento social e na luta de idéias”.
“Sem inserção significativa no movimento social e com participação quase nula na luta de idéias, o Partido perdeu substância inclusive em sua participação eleitoral. A organização partidária, por seu lado, moldou-se, de um modo geral, às demandas eleitorais, desorganizando-se em seguida em sua maior parte. Agravou a situação a incompetência na gestão partidária, com predominância do espontaneísmo e do voluntarismo”.
“Tal situação provocou dispersão da militância. O Partido tornou-se uma espécie de confederação de comitês municipais, perdendo assim a unidade política e organizativa. Processos e procedimentos burocrático-administrativos acabaram por obstruir os canais democráticos de funcionamento interno, sufocando o debate de idéias que, sem poder ser freado, transferiu-se para outras esferas, deformando-se muitas vezes”.
“Sem inserção significativa no movimento social e com participação quase nula na luta de idéias, o Partido perdeu substância inclusive em sua participação eleitoral. A organização partidária, por seu lado, moldou-se, de um modo geral, às demandas eleitorais, desorganizando-se em seguida em sua maior parte. Agravou a situação a incompetência na gestão partidária, com predominância do espontaneísmo e do voluntarismo”.
“Tal situação provocou dispersão da militância. O Partido tornou-se uma espécie de confederação de comitês municipais, perdendo assim a unidade política e organizativa. Processos e procedimentos burocrático-administrativos acabaram por obstruir os canais democráticos de funcionamento interno, sufocando o debate de idéias que, sem poder ser freado, transferiu-se para outras esferas, deformando-se muitas vezes”.
Penso que o relativo sufocamento do debate de ideias a que o documento-base se refere possibilitou que a crise partidária prosperasse - ao menos na escala em que prosperou. Em outras palavras: se as opiniões divergentes sobre os caminhos a tomar pudessem ter sido expostas e examinadas adequadamente, tanto no âmbito da direção, como das bases, certamente o partido não teria marchado, como marchou, sob o peso de uma enorme (e progressiva) crise interna, rumo a uma derrota anunciada.
A verdade é que vivemos um longo período de, digamos, vertigem da dialética entre nós, já que houve um truncamento da luta de idéias nas fileiras partidárias. Refiro-me, aqui, à luta de idéias organizada, fluindo pelos canais da organização partidária e segundo as normas de funcionamento do partido, dirigida a fortalecê-lo cada vez mais.
A luta de idéias, onde quer que ocorra, expressa a luta de contrários (uma categoria dialética) no campo do pensamento. E a luta dos contrários é o motor do desenvolvimento da matéria e da consciência em quaisquer circunstâncias. Assim, o relativo abafamento da luta de idéias na vida partidária, fenômeno que grassou nos últimos anos, obstruiu o desenvolvimento de um pensamento coletivo crítico e ajustado às demandas de um partido revolucionário como o nosso. Com isso a crise corroeu o organismo partidário e chegamos à derrota de outubro de 2010.
O que se pretende com o processo da conferência extraordinária de 30 de abril – seja nas reuniões e assembléias preparatórias, seja nas páginas dessa Tribuna de Debates eletrônica - é justamente libertar o fluxo de idéias, nas direções e nas bases, dar asas ao pensamento crítico marxista-leninista e, coletivamente, coesos em torno do programa, das concepções teórico-ideológicas do partido e da análise concreta do cenário político em que atuamos, realizar a crítica do caminho percorrido nos últimos anos e formular as bases para um projeto consistente, articulado de ação política e organização partidária no Paraná.
Estou convencido de que a militância do PCdoB do Paraná quer emitir suas opiniões, quer ajudar a repensar o partido, retirá-lo da crise em que se encontra, injetar-lhe forças e vê-lo prosperar na cena política do Estado como verdadeiro partido revolucionário, marxista-leninista, que atua no presente, segundo as circunstâncias do presente, com os olhos postos no futuro, nos seus objetivos estratégicos, na perspectiva da construção no socialismo em nosso País.
Espero que essa militância valorosa encontre nas páginas dessa tribuna e no palco das reuniões preparatórias da conferência, as oportunidades de participação que talvez não tenha encontrado até então. E certamente fará, dessa prática dialética da reflexão e do debate, um hábito rotineiro na vida que o partido terá daqui para frente.
*Luiz Manfredini é filiado ao PCdoB de Curitiba. Jornalista e escritor, autor de As moças de Minas, membro do Comitê Estadual e de sua Comissão Política, representante no Paraná da Fundação Maurício Grabois, colunista do sítio Vermelho e membro do Conselho Editorial da revista Princípios.