segunda-feira, 21 de março de 2011

Breve análise da situação do Partido – Matsuko Mori Barbosa*

No início da década de 1980, quando filiei-me ao PCdoB, o Partido ainda era clandestino e pequeno. Porém os seus militantes tinham uma atuação destacada. Atuávamos no movimento estudantil, movimento de bairros, movimentos de mulheres, nos sindicatos e nos movimentos populares em geral. Estávamos organizados em organismos de base, com funcionamento regular, onde realizávamos a análise de conjuntura, estudo dos clássicos do marxismo, leitura dos editoriais do jornal Tribuna Operária, que também tínhamos cota para vender e vendíamos nas portas das fábricas da CIC de madrugada. Os candidatos nas eleições eram os quadros do Partido e não políticos que surgiam de última hora, não se sabe de onde. E não se pode dizer que o resultado das urnas era vergonhoso. Isso porque os militantes se empenhavam, se engajavam na campanha eleitoral. E o candidato defendia as propostas do PCdoB. Podemos dizer que naquela época, 30 anos atrás, a situação era bem diferente da atual. Um pouco antes da minha filiação, a bandeira de luta era “ANISTIA GERAL E IRRESTRITA” Depois veio : “Abaixo a ditadura militar”; “Eleições diretas já”. Com a derrota das diretas, apoiamos Tancredo Neves no Colégio Eleitoral, depois lutamos pela Assembléia Constituinte Livre e Soberana. Com o fim da ditadura e a redemocratização do nosso país, conquistamos a legalidade para o PCdoB. Que descortinou novos horizontes. Nos anos seguintes, lutamos pela eleição de Lula para presidente. Hoje, após várias conquistas democráticas, os progressos econômicos e sociais no nosso país, com a candidata que apoiamos no poder, vivemos uma crise interna no PCdoB. O Partido não cresce e não elege seus candidatos. Qual é a ordem do dia hoje para o nosso país? Qual o papel do PCdoB na conjuntura nacional? O que extraímos de essencial do “Programa Socialista para o Brasil”, para nortear as ações dos quadros e militantes?

A realização da Conferência Extraordinária do Partido no Paraná não deve ser encarado como mais uma instância formal e burocrática para mudar a direção, que só interessa àqueles que ocupam cargos de direção. Deveria interessar a todos, e principalmente àquelas meia dúzia de pessoas abnegadas, que carregam o piano nas costas, dedicam parte considerável da sua vida pessoal, profissional e econômica ao partido, muitas vezes sem voz ou tempo para realizar questionamentos, ou para se aprofundar nos estudos sobre os documentos do Partido. Muitas vezes penso, estão num barco onde se matam de tanto remar, mas nunca questionam para onde o barco está sendo levado? Se não está havendo mudança de rumo? Ou devemos seguir cegamente, sem análise crítica? Com fé cega?

O que fazer para tirar o Partido deste marasmo e desta apatia? Como dar uma injeção de ânimo ao conjunto de filiados, militantes, amigos, simpatizantes para começar uma nova fase no Partido no Paraná?

Já se dizia que sem teoria revolucionária não há revolução.

Qual a teoria revolucionária do momento atual?

Qual a revolução que iremos dirigir?

Todos já lemos os documentos do Comitê Central que traz estas questões? Tiramos as conclusões? Estamos convencidos?

O Partido deve ter unidade política e de ação.

Devemos estar afinados com a tática e a estratégia definidos no Congresso do Partido e também com a Organização do Partido.

A nova direção a ser eleita deve levar a sério estas questões e de fato, de forma firme e decidida, reconstruir o Partido no Paraná, para que não vire de novo uma geléia geral.

Os militantes do Partido não devem ser convocados para discussões apenas em épocas de eleições, em forma de plenárias para se engajarem nas campanhas. Ou para discussão de documentos base em épocas de conferências e pré-congressos. Devemos participar de vida orgânica no Partido, de forma regular, onde se discute a política do Partido, traçam-se as tarefas, onde a direção orienta e acompanha a execução destas tarefas.

Como vamos recrutar novos militantes se nós mesmos não estamos convencidos?

Daí trazemos um cantor famoso, um jogador de futebol para ser o nosso candidato para termos representatividade política no cenário nacional. Isso para mim é construir um gigante com pés de barro.

Usando uma linguagem mais popular, falta tesão para atuar no Partido.

A situação do Partido no Paraná, não está isolada da do resto do país. Não chegaremos a lugar nenhum num processo autofágico. Precisamos refletir com tranqüilidade e coragem, debruçando-nos sobre os documentos do Partido, desde os clássicos até os atuais e tirar as conclusões, de forma corajosa.

Coragem para responder a algumas questões que não querem calar: Chegaremos ao socialismo sem necessidade de pegar em armas? O que é a teoria do desenvolvimentismo?

Acho até que o prazo deveria ser maior para a conclusão desse processo todo de discussão. Para que realmente tenha valido a pena e façamos diferente daqui para frente.

* Matsuko Mori Barbosa é filiada ao PCdoB de Curitiba. Enfermeira, atua na UBM. Membro do Comitê Municipal de Curitiba.