segunda-feira, 18 de abril de 2011

O que há de errado afinal? – Ivanovick*

Pensar o Partido como um todo, sua tática e estratégia, construção de projeto político de curto e médio prazo e tudo mais de que se ocupam diversos camaradas chamados quadros políticos teóricos ou acadêmicos nunca foi minha preocupação principal. Sou daqueles que acredita na vida em sociedade no sentido de que uns fazem algumas coisas enquanto outros fazem outras, na medida de seus talentos, vontades e inclinações.

Mas diante da realização da Conferência Extraordinária, e por divergir de uma série de opiniões colocadas, me obrigo e escrever e tentar contribuir com o processo.

Esta conferência foi motivada por problemas vividos pelo Partido no Paraná. Problemas apontados no documento base que foi redigido por uma comissão e aprovado pelo Comitê Estadual. Um dos problemas centrais, como não poderia deixar de ser, é o projeto político do Partido.

Analisar esse projeto deve servir para que se construa outro mais acertado, mas sua simples análise e crítica não vão mudar as correlações de força que encontramos na sociedade, nem vai mudar a capacidade de interlocução e de inserção do Partido na população.

Pois vejamos, o partido no Paraná investiu boa parte de seus esforços de construção nos últimos oito anos na área do esporte. Esse foi o discurso predominante do partido em função dos espaços que ocupou em nível estadual e que ocupa no governo federal desde 2002. Além do esporte, a juventude, os trabalhadores, as mulheres e outras frentes são espaços de militância com participação do Partido. Apesar da importância de todas as frentes, nenhuma delas foi suficiente para que o PCdoB tivesse uma interlocução forte e disputasse a opinião política na sociedade paranaense.

Muito se discutiu o sobre caminho do esporte, em vários sentidos, sob diversos ângulos. Mas ninguém foi capaz de propor (e ainda não há) uma alternativa a esse arranjo que não seja um recomeço de acumulação pelas bases municipais, mesmo assim, com poucas perspectivas em curto e médio prazo. Partindo de Curitiba como exemplo, não existe perspectiva neste momento de que seja construída uma chapa própria de vereadores para 2012, nem mesmo no patamar de 2008.

Fora do esporte, as lideranças partidárias que esboçaram projetos estaduais nos últimos anos, são lideranças regionalizadas, diria até que municipais; pouco conhecidos fora de seus redutos. A ausência de lideranças estadualizadas, a falta de persistência na estadualizações de nomes partidários resultou em chapas magras, de pouco densidade eleitoral. O resultado eleitoral é conhecido por todos.

Faço esse resgate para perguntar: o que há de errado afinal? Para começar, temos que encarar o fato que, por motivos diversos, o PCdoB ainda tem pouca presença e pouca influência nos debates sobre os rumos da sociedade, tanto em nível nacional, e mais ainda estadual. Por que se fosse realmente influente, o Partido seria maior, teria mais representação e mais espaço. Não vejo isso com sentimento de derrota. O Partido em si não vê. Estamos chegando a 90 anos de existência, se a conformação ideológica dos militantes comunistas não permitisse suportar isso, o Partido já teria sucumbido, como muitos já o fizeram.

Acho importante trazer o problema para o foco do debate e da disputa de ideias na sociedade, pois penso que é disso que precisamos. Por isso, a presença destacada com propostas justas e avançadas na juventude, no movimento sindical e nos demais movimentos sociais são tão importantes. Além disso, a disputa de ideias na academia, na intelectualidade, completa o tripé de militância e  de luta de ideias em que o Partido precisa se destacar para avançar.

Ao contrário disso,no Paraná, a militância partidária na juventude vive de demandas congressuais, com pouca estrutura de organização, muitas vezes sem condições adequadas de alimentação e moradia. O movimento sindical sob influência do Partido ainda tem pouca expressão política. A CTB carece de personalidade e de inserção no Estado, pouco interferindo fora dos limites das fábricas em que estão presentes seus sindicatos. Para completar, a inserção na intelectualidade é pequena e pouco organizada.

Mas, o que isso tem a ver com o projeto político e os problemas de direção apontados no documento base da Conferência? TUDO.

A direção estadual, com pouca força, com diversos membros que se abstêm da simples participação nas reuniões e tudo mais é reflexo e expressão elevada do que é o Partido no Estado. Não admitir isso é idealizar a realidade e acreditar que em algum lugar desconhecido há um Partido melhor, mas que interesses obscuros insistem em sufocar. Infelizmente é o que muitos militantes de atuação destacada, que vêm integrando todas as direções estaduais nos últimos anos, querem fazer acreditar.

Para superar as dificuldades naturais da construção de uma organização que almeja ser revolucionária não há receita mágica. Basicamente, é preciso de formação de quadros. Como o partido se constrói na sociedade também não há mágica, os quadros virão dessa sociedade e vão militar nela. É esse o barro sobre o qual será moldada uma expressão política e não outro. De nada servirá um partido puro, de militantes firmes ideologicamente, se não for para interferir e tentar modificar a sociedade. O PCdoB não é um clube, nem uma academia.

Para finalizar, penso que renovar a direção mantendo em parte quadros experientes é um bom critério para que o partido avance, mas não há novidade nisso. O critério da renovação com permanência foi evocado em todas as formações de direção estadual das quais participei nos últimos seis ou oito anos. Desafio sim é militar sem veto, sem exclusão, sem ódio, sem reduzir ou temer o debate. Desafio é encarar a participação na direção, em qualquer nível que seja, como uma tarefa e não uma recompensa.

*Ivan Souza (Ivanovick) é filiado ao PCdoB de Curitiba. Graduado em Letras, é assessor de comunicação, produtor cultural e DJ. Membro da Comissão Política Estadual e Secretário de Comunicação do PCdoB de Curitiba.