sábado, 9 de abril de 2011

Uma contribuição para o debate (1) - Milton Alves*

“Há homens que lutam um dia, e são bons;
Há outros que lutam um ano, e são melhores;
Há aqueles que lutam muitos anos, e são muitos bons;
Porém, há aqueles que lutam toda a vida. Estes são imprescindíveis”
Bertoldo Brecth

1.O novo quadro político no PR e o posicionamento do PCdoB

O quadro político do Paraná sofreu significativa alteração com a vitória da aliança liderada por Beto Richa (PSDB, DEM, PPS, PSB, PTB, PP, PRB e outras pequenas legendas). O candidato tucano venceu Osmar Dias(PDT) no primeiro turno com 52,4% dos votos contra 45,6% do pedetista, num universo de 5.797.026 votos válidos. O candidato do PV, Paulo Salamuni, atingiu minguados 1,4% dos votos. Brancos e nulos foram 8,7% dos votos.

Apesar do quadro polarizado entre as duas principais candidaturas, desde o início do processo eleitoral, Beto Richa liderou a disputa.

A plataforma principal da candidatura tucana foi baseada na tese da renovação e de uma pretensa gestão bem sucedida em Curitiba. Também se colocou como uma candidatura de contraposição ao estilo de governar de Requião. Em relação ao presidente Lula adotou uma postura pública de reconhecimento das políticas sociais do governo federal. Assim se apresentou Beto Richa para a batalha eleitoral.

O campo político identificado com os governos de Lula e Requião não logrou a apresentar uma candidatura com antecedência. O esforço para apresentar uma candidatura única do campo consumiu meses.

O PCdoB defendeu a necessidade da união de todos os partidos da base, como forma de construir um palanque unificado para Dilma no estado e manter, ao mesmo tempo, o governo do Paraná sob comando da base aliada.

Apenas no início de julho, depois das convenções partidárias, foi possível a formalização da aliança reunindo o PMDB, PT, PDT, PCdoB, PR e PSC – e apresentando como candidatos ao governo do estado o Senador Osmar Dias(PDT) e vice, o deputado federal Rocha Loures(PMDB). Para o Senado as candidaturas de Gleisi Hoffmann(PT) e Roberto Requião(PMDB).

A disputa, além de polarizada, logo se radicalizou, com cada bloco azeitando a sua musculatura para o enfrentamento, foi uma das eleições mais disputadas do Paraná. Também foi fortemente condicionada pela disputa nacional entre Dilma e Serra. Vale ressaltar que o Paraná foi um dos redutos da campanha tucana.
A campanha de Beto Richa partiu para um feroz enfrentamento, utilizando os métodos da desconstrução, da calúnia e censurou jornalistas, blogs, e de forma inédita, a partir do início de setembro, recorreu ao TRE, que impediu a divulgação de qualquer pesquisa de intenção de votos. Um precedente gravíssimo para as futuras campanhas eleitorais.

A direção da campanha de Osmar Dias demorou a reagir, a rebater os ataques, principalmente, os veiculados pelo horário eleitoral da TV e do rádio.

Nas últimas duas semanas, a campanha da coligação a União Faz um Novo Amanhã (PDT,PMDB,PT,PCdoB,PR,PSC) ganhou impulso, avançou na politização do debate, mas não foi possível reverter o quadro da disputa.

Uma análise do resultado da eleição aponta para uma expressiva vitória de Beto Richa nos grandes colégios eleitorais do estado: Curitiba, Londrina, Ponta Grossa, Cascavel. Já Osmar Dias foi vitorioso na maioria dos municípios de médio e pequeno portes.

Para o Senado, a coligação da base aliada logrou conquistar as duas cadeiras em disputa, elegendo Gleisi com 29,5% dos votos e Roberto Requião com 24,8%. Sem dúvida, uma importante vitória do nosso campo. Gleisi Hoffmann saí das eleições como uma liderança em forte ascensão no quadro político do estado.

Gustavo Fruet (PSDB) ficou em terceiro lugar com 23,1%, obtendo em Curitiba e RM uma robusta votação.

Nas disputas para a Assembleia Legislativa e Câmara de Deputados houve certo equilíbrio de forças, com destaque para o desempenho expressivo do PSC de Ratinho Junior e do PV que conquistou uma vaga.

Diante da nova situação política no estado, o partido deve defender a manutenção da aliança que apoiou Dilma/Osmar, visando organizar uma oposição de caráter programático ao governo tucano; defender as conquistas salariais dos trabalhadores e servidores públicos (política do salário mínimo regional hoje ameaçada de extinção pelo governo tucano); defender as empresas públicas contra qualquer tentativa de privatização (Copel, Sanepar, TV Educativa, Celepar, Porto de Paranaguá); impedir o esvaziamento dos programas sociais.

Uma questão a ser examinada a partir nova realidade política do estado é a situação do PT, que se fortaleceu e poderá se tornar o eixo aglutinador e estruturante das forças do nosso campo.

Neste sentido, devemos situar o partido a partir da nova correlação de forças estabelecida no Paraná depois das eleições e tendo por base as diretrizes políticas do Comitê Central de lutar pelo êxito do governo Dilma e de reforçar política e organicamente o PCdoB.

O Comitê Estadual do partido em sua última reunião (27/2) qualificou a nossa atuação como oposição de tipo programático e mobilizadora em relação ao governo conservador de Beto Richa.

*Milton Alves – é presidente estadual do PCdoB-PR