segunda-feira, 11 de abril de 2011

Uma contribuição para o debate (2) - Milton Alves*

“Perante um obstáculo, a linha mais curta entre dois pontos pode ser a curva”
Bertoldo Brecht

O resultado eleitoral de 2010 e a situação do partido

O nosso balanço do desempenho do fator partido nas eleições do Paraná deve ser abrangente, multilateral, e focado no quadro político atual de derrota do nosso campo político no estado e de severa derrota do projeto eleitoral do PCdoB-PR.

Uma análise que deve ir à raiz das nossas limitações e impasses, visando dotar o coletivo partidário de um rumo realista, em consonância com uma situação adversa no plano político e estrutural.

A batalha eleitoral - e seu resultado - é a radiografia do partido no estado, o que possibilitará um exame rigoroso do esgotamento do atual projeto político estadual do PCdoB paranaense e do seu modelo de funcionamento e operação.

Num quadro de profunda derrota surge com maior nitidez e agudeza os fenômenos negativos, como as realidades estagnadas de diversos comitês municipais, a fraca estrutura organizativa do partido como um todo; as práticas antiunitárias e personalistas e a rarefeita inserção social do partido. Todos esses fatores redundam também em falta de acumulação no terreno eleitoral.

Os desafios são imensos, e não vamos resolvê-los com fórmulas simplistas, ou de um só golpe. Tampouco com arroubos salvacionistas de ocasião. Superar esses gargalos exige um esforço tenaz, paciente, laborioso, de equipe - de planejamento a médio e longo prazo, visando estruturar mais larga e profundamente as organizações partidárias, conferir-lhes funcionamento mais permanente, principalmente nos grandes municípios do estado; aumentar o volume de nossa força militante; atrair e abrir o partido para novas lideranças; ampliar a nossa ação nos movimentos sociais, dos trabalhadores, e na intelectualidade avançada; desenvolver bases de sustentação material do Partido. Diagnóstico já realizado em diversos momentos na vida do partido.

Neste sentido, é revelador dos limites do partido os resultados do nosso desempenho na disputa eleitoral de 2010.

O partido fixou como o objetivo prioritário a eleição de um deputado federal. Lançamos 2 candidatos(Gomyde e Chico), o que evidenciou os limites da nossa unidade, tensionando sobre maneira a nossa frágil estrutura partidária. Além disso, a situação política nos obrigou a integrar um chapão composto por PMDB, PT, PDT, PR, com 14 deputados detentores de mandato e mais alguns outros nomes de peso eleitoral, o que elevou a linha de corte na disputa para mais de 90 mil votos.

Todo o esforço durante a campanha eleitoral se concentrou na tentativa de levar a cabo o projeto estabelecido. Assim foram determinadas as prioridades, definidas áreas de campanha, o uso do tempo na televisão, e outras medidas pertinentes, na busca de firmar uma estratégia unificada e coerente, no entanto, numa batalha desse tipo, nas condições atuais, é checado, digamos assim, o limite e o potencial das nossas forças. Com um partido pequeno, sem recursos e estrutura material, e sem bases eleitorais definidas, o resultado apenas expressou de forma objetiva o tamanho das nossas fraquezas e limites. No curso da campanha também pesou fatores subjetivos, como a falta de uma convicção unitária em torno do projeto e pressões centrífugas, que incidiam no esforço eleitoral de conjunto.

Para qualificar e quantificar melhor a nossa avaliação apresentamos alguns dados sobre as nossas candidaturas:

Deputado Federal


Ricardo Gomyde

obteve 44.569 votos(078%), 6ª. Suplência (coligação elegeu 12)
foi votado em 396 municípios
em 2006 obteve - 62.019 votos




Chico Brasileiro

obteve 31.222 votos (055%), 7ª Suplência(coligação elegeu 12),
foi votado em 160 municípios
em 2006 não foi candidato

Em relação as duas principais bases dos candidatos:

Gomyde
obteve em Curitiba 17.283 votos
em 2006 obteve – 21.051
Chico
obteve em Foz        26.444 votos
em 2006 não foi candidato

O quadro acima demonstra em relação a candidatura de Gomyde uma redução de votos em Curitiba, cerca de 4 mil votos. Já a candidatura de Chico Brasileiro conquistou mais de 70% de seus votos em Foz do Iguaçu, e atinge cerca de cinco mil votos fora. O quadro apresenta a candidatura de Gomyde com uma votação mais distribuída e a candidatura de Chico com uma votação fortemente concentrada.

Um exame dos mapas de votação aponta que os votos obtidos por Gomyde em Curitiba e região metropolitana são difusos, em diversas faixas e segmentos da população, resultados de uma determinada visibilidade, o que confirma a ausência de nichos ou redutos eleitorais, fatores que identificam um perfil e fidelizam a opção de voto, favorecendo o que se chama no jargão eleitoral de “amarração de votos”. Por sua vez, os mapas eleitorais de Foz revelam que os votos obtidos por Chico são amplamente majoritários nos bairros de classe média e da área central da cidade. O candidato teve uma reduzida votação nas zonas eleitorais situadas nos bairros populares e na periferia da cidade. Também em Foz houve este ano uma fragmentação na disputa eleitoral, concorreram ao pleito de uma vaga para deputado federal quase uma dezena de candidatos.

Em todo o caso, as expectativas de votos ficaram aquém das projeções apresentadas pelas coordenações de campanha. O resultado final situou as candidaturas de Gomyde e Chico, nas 6ª e 7ª suplências respectivamente da coligação, que acabou conquistando 12 cadeiras.

Deputado estadual

Nelsinho Bonardi
obteve 11.690 votos
foi votado em 115 municípios

Oscar Cezário    
obteve   1.246  votos
foi votado em  44 municípios

Clésio Castanho 
obteve      941  votos
foi votado em  53 municípios

Rogério Calazans  
teve a candidatura indeferida



O quadro de candidaturas para deputado estadual releva ainda com maior clareza as nossas dificuldades estruturais, orgânicas e políticas. Não conseguimos reunir forças para apresentar uma nominata própria de candidatos. O passo seguinte foi tentar lançar um maior número de candidatos, distribuidos pelas diversas regiões do estado, como forma de sustentar o esforço prioritário da eleição de um deputado federal, o que também não conseguimos. Acabamos lançando um número reduzido de candidatos - e que pouco contribuiu para consolidar o objetivo eleitoral prioritário do partido.

Em comparação com 2006 tivemos uma redução da nossa votação para deputado estadual.

Em 2006 votos nominais e legenda 28.426 - 053%
Em 2010 votos nominais e legenda 16.132 - 028%

Outro dado significativo foi a redução de votos para deputado estadual no PCdoB em Curitiba. Nestas eleições tivemos uma redução que atingiu o percentual de (- 55,96%). Veja a tabela abaixo.

2002 2.940 votos
2006 3.626 votos
2010 1.597 votos

Ou seja, os números são indicadores de uma situação de enfraquecimento e mesmo estagnação do partido na capital, principal centro político do estado, um colégio eleitoral que reúne mais de um milhão de eleitores. Esse pífio resultado também evidenciou que foi um erro não lançarmos mais candidatos em Curitiba e região metropolitana, desbravando novas perspectivas e projetando para embates futuros novos nomes.

Portanto, diante do resultado eleitoral de profunda derrota, em toda a linha do projeto partidário, são necessárias medidas políticas e organizativas, visando enfrentar com determinação e seriedade as suas causas.

Neste sentido, o primeiro passo é um debate amplo, franco e fraterno na direção partidária dos nossos problemas, que restabeleça, com base nos mecanismos da institucionalidade partidária, os vetores de um caminho político e orgânico para o início da superação das dificuldades do partido e a formulação de um novo projeto político para o PCdoB no estado. A realização da Conferência Estadual de abril deve ter como foco esse objetivo;

Segundo, proceder uma imediata revisão organizativa, que favoreça um efetivo protagonismo das coordenações macrorregionais na vida interna do partido, Convocar um encontro estadual sobre questões de partido; atualizar a rede vermelha e os registros de filiados no TRE; reorganizar as comissões provisórias municipais tendo em vista o novo projeto político e as eleições municipais de 2012. As conferências municipais no segundo semestre desempenharão um papel determinante neste processo;

Terceiro, reorganizar o partido na capital, fortalecer a direção política, reestruturar os comitês distritais e iniciar uma ampla campanha de filiação, visando preparar a nossa participação nas eleições de 2012;

Quarto, o novo comitê estadual deve ser formado combinando os elementos de renovação e permanência, mas priorizando o aspecto da renovação. Promover novos camaradas para as funções dirigentes, redefinir papéis e funções para os dirigentes mais antigos. Promover também um maior número de lideranças provenientes dos movimentos sociais e populares para a direção;

Quinto, formar no âmbito do Comitê Estadual um grupo de trabalho para formular e examinar as premissas e fundamentos dos objetivos e metas eleitorais do partido para 2012.

Portanto, camaradas, a abordagem das questões contidas no documento-base invoca um consistente diagnóstico. Encontrar um fio condutor, com base num eixo político e organizativo renovados, ao lado de uma direção reestruturada, a partir do debate amplo, franco, e solidário, serão os elementos indispensáveis para abrir novos e fecundos caminhos na atuação dos comunistas no Paraná.

*Milton Alves é presidente estadual do PCdoB-PR.